quinta-feira, 30 de agosto de 2007

terça-feira, 6 de abril de 2004

Ao mestre com (muito) carinho

Era com um modesto pedacinho de papel que ele entrava na sala de aula. E falando um sonoro "bom dia!", ia nos passando todo o seu conhecimento. Essa prática, tão condenada por Platão, me causava os melhores e maiores sentimentos. Não foram muitos momentos assim, não: poucos, 4 aulas. O suficiente para que eu me lembre para o resto de minha vida. Mas muitas foram as vezes que nesses são tão singulares momentos eu me peguei de boca aberta. Sabe quando alguma coisa é tão maravilhosa que o seu corpo reage? Então. Assim eram as aulas de Octávio Ianni. Enquanto ele lia as anotações em seu singelo papelzinho, recomendando os "pequeníssimos livros", falando sobre os "paupérrimos" moradores de Canudos e contando-nos a história de Jaime, o motorista de táxi que não se conformava com a "ineficiente" abolição dos escravos, aquele velhinho ia cativando um a um. A paixão pela profissão saia dos olhos de Ianni. Era como se o ele fosse uma espécie de cupido das Ciências Sociais: bastava assistir uma aula dele pra se apaixonar ainda mais pelo curso. Eu mesma, determinada (por motivos que não interessam agora) a abandonar a Sociologia, revi minha posiçõe depois de assistir suas aulas. Uma vez, o Tio Sukita disse que falava a alguns garotos da minha sala, humanidade. E eu me sinto muito mal no IFCH por causa da falta de humanidade das pessoas de lá. É muito, muito ruim. Mas conhecendo Ianni, podemos perceber que existem excessões, e assim, pude continuar meu caminho. A humildade, a simplicidade e a generosidade que Ianni tinha deveriam ser exemplo para todos esses chatos, estudantes de Ciências Sociais, que, em sua maioria, são pessoas que promovem debate pelo gosto da fala e da notoriedade, ignorando a intenção original que seria a troca de idéias, o conhecimento ampliado, democratização da teoria, etc. Nós perdemos sim, um grande acadêmico. Mas perdemos também, uma grande pessoa. Digo isso pois nessa jornada amarga do crescimento, vamos conhecendo e se decepcionando com as pessoas (muitas vezes próximas e amigas), tão pobres em generosidade, humildade, autenticidade. O Brasil ficou muito, muito mais vazio hoje. E eu também.

Um comentário:

Marie disse...

07.04.2004 | Putz, Mari, faloutudo. O Octávio Ianni era o mestre da sociologia brasileira, e nós o perdemos. Nesta hora fico pensando: porque esses caras morrem? Eles deveriam ser eternos. Quem tem um conhecimento absurdo e consegue transmití-lo como o Ianni tem que viver por uma eternidade. E assim, acabamos de ficar um pouco mais viúvas. E, usando suas palavras, muito mais vazios.
Léo - leorostqz4real@yahoo.co.nz | http://www.timewait.weblogger.com.br