domingo, 27 de março de 2011

Que por encanto (infelizmente) aconteceu
 
Talvez existam pessoas mesmo que não sejam de uma outra apenas. Ouvi ontem que não existem almas gêmeas, mas que existem almas compatíveis. Eu já nem sei se existe uma coisa ou outra, o que eu sei é que existe encanto. E pessoas que deixam marcas, às vezes verdadeiras freadas em nossas existências (entendam o termo freada com desejarem). Mas simplesmente deixam.
E então eu começo a pensar que eu sou um daqueles filmes idiotas. Sim, às vezes pareço mais idiota que a ficção. E que a única pessoa que passou pela minha vida e que não deixou resquício algum de encanto ou saudade foi mesmo aquele que teria que ser o mais especial: o primeiro namorado.
Eu penso em todos os (poucos) outros. E enquanto penso e escrevo, quem lê acha que tudo se concretizou em desejo carnal. Não. Aliás não mesmo. A lembrança mais doce que eu guardo é de um gaúcho que eu dei um beijo bem novato na usina no gasômetro no alto dos meus 19 imbecis anos. Tenho ímpetos de encontrar esse cara nas redes sociais da vida e falar que aquele beijo sem graça me libertou pra vida. Me deu auto-estima. Me senti menos falida como mulher que eu nem sabia que era. UM beijo na usina do gasômetro, a mesma que serve de cenário para tantos desenrolares de destinos e trivialidades nos romances de meu Érico Veríssimo. Esse sim, me encanta diariamente. Talvez, junto de meu pai, seja o único homem que amo de fato.
Talvez eu não tenha mesmo amado ninguém de verdade nessa vida. De todos os meus poucos namorados o único que não me decepcionou é aquele que ainda hoje é meu amigo. Que me disse que eu fui a mulher que ele mais gostou e que mesmo assim, mantém uma relação de cordialidade e me chama de Coração. Talvez o amor verdadeiro seja esse, o simples querer bem desprovido de interesse.
Na verdade, tudo aqui é uma reflexão de como você, quase balzaquiana, vê que caminhos que jamais teriam se encontrado simplesmente se desviam nisso que a gente insiste chamar de vida. Você conhece um cara tonto no cursinho em 2001. Volta a ficar com ele em 2003. Em 2004 vocês de vêem novamente, e pela última vez em 2006. Jamais vão além dos beijos e de uma jaqueta importada sequestrada por você. Comédia de erros. O cara tem um filho e te diz: eu não sei explicar, mas falar com vc me dá paz. Não quero me perder de você. Gosto de você de um jeito que eu nem sei explicar e vou gostar sempre.
Me digam amigos. Nâo está parecendo, guardadas as devidas proporções, aquele velho parachoque de caminhão DEUS TE AMA MAS NINGUÉM TE COME?
É definitivamente difícil chegar aos 30 sabendo que você foi (ou não) amada, mas que está sozinha. Que cada pessoa que passou pela sua vida, por mais idiota que fosse, não deixou de te encantar simplesmente por ser assim, gente autêntica. E que na verdade, você não amou: é um pouco de todos eles. E, você se encantou pela imagem ou qualquer outra coisa de boa e passageira que, no fugaz momento, te aliviou de todas as outras mazelas do mundo.

sábado, 19 de março de 2011

Eu fico pensando às vezes o porquê das coisas. O porquê da educação sentimental, por exemplo.  O porquê da construção dos sonhos e o porquê do apego às pessoas.
O porquê da banalidade de palavras e expressões "eu sou seu seu amigo", "quero ficar pra sempre com você", e mais: a maior de todas perguntas que posso fazer agora: o porquê da incrível displicência do eu te amo.
E me peguei lembrando dos artigos que escrevi tentando analisar a trajetória de O Tempo e o Vento - Do Continente para a o Arquipélago e entender como tudo aquilo se fez, eu me senti o mais nada de todos os vazios de palavra deixada por dizer ao perceber que a ilha era eu. E que no fundo, por mais que digam as palavras-chave da tentativa desesperada de socialização - "amigo - eu te amo - estou aqui", ninguém se importa. E então, achei melhor parar de procurar o sentido das coisas como amor ou amizade.