quarta-feira, 31 de março de 2004

40 anos essa noite

E o país sentia um quê de revolução no ar. Um cheiro de charuto cubano talvez, um gosto de chá da China, não se sabe... O que sabemos e é o que a história conta, é que qualquer tentativa de mudança ou de emacipação de velhas formas de governo foi estancada pela traição aplicada na noite do dia 31 de março. A dor de Jango deve ter sido a dor do aborto. A dor do Brasil é sentida até hoje. Os acontecimentos históricos provam que uma virada comunista no Brasil seria improvável. Mas não custa imaginar quão diferente seria o nosso país se ele tivesse tomado o caminhos proposto por Jango. Pois bem, não aconteceu. O que ganhamos, foi uma das maiores injustiças de todos os tempos. No começo, era a inocência. Os sonhos pueris da revolução. Com o amadurecimento do regime, também se amadureceram as massas revolucionárias. Eles estavam dispostos a morrer, e morreram, como disse César Benjamim. Nossos revoluciónários eram quase todos da classe média. E numa briga interminável, não sabiam se adotavam a vertente chinesa, se embarcavam na linha cubana de revolução... A verdade é que muitas vezes acabavam por tentar imitar os camaradas soviéticos, adaptando uma versão para os trópicos quase sempre bizarra (como podemos perceber nos relatos de Gabeira, em "O que é isso Companheiro". E assim os nossos heróis foram perdendo a inocência. Caminhando e cantando e seguindo a canção, foram os personagens principais de um dos maiores banhos de sangue que já ocorreram no nosso país. Lutaram, morreram.
"Como é difícil pai, abrir a porta". Como é difícil. Quando ingressei em meu curso de Ciências Sociais, eu tinha em mente a idéia de mudar o mundo, montar uma ONG pra ajudar as pessoas, botar a boca no trombone tendo como espelho, os estudantes de 1964: lendo Marx, vivendo de ideologia e fazendo parte do movimento estudantil. Acho que nesses 3 anos eu só não me decepcionei com Marx. Ele é o maior itelectual de todos os tempos mesmo. Mas é triste ver que tudo nesse mundo são interesses, geralmente pessoais, que derturpam todas as outras coisas. Castelos desmoronam na sua frente e você não pode fazer nada: você não pode mudar o mundo porque o sistema está sacramentado de tal maneira que tentar destruí-lo é dar murro em ponta de faca; o movimento estudantil é composto de "celebridades" que só buscam auto-promoção... A militâcia ainda é feita pela classe média (até porque, como já foi dito no post anterior, o estado não provém uma educação crítica às massas...); seus amigos ora querem mudar o mundo com você, e outras, renegam tudo o que defendiam, põem terno e vai trabalhar na empresa do pai. Pode parecer bobo, mas uma cena de televisão não me sai da cabeça. Anos Rebeldes, 1992. Maria Lúcia, chora na mesa, vendo que os ideais dos amigos já não eram os mesmos. "Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais". Tenho medo de chorar mais tarde da mesma forma. Que seja, que seja. Não se tem nada a comemorar no dia de hoje, de maneira nenhuma. Mas vamos co- memorar (lembrar juntos), de gente que lutou pela liberdade de expressão e de governo no nosso país: Dora, Maria Lygia, Lamarca, Syrkis, Gabeira, Yara, Benjamim, Vandré, o senhor que emprestou o sítio para o Congresso de Ibiúna e sua família, e muitos, e muitos outros. No mais, faço minhas as palavras de Érico Veríssimo e tão usadas por Biézita "Que haja paz na nossa luta". Ainda temos muito, muito o que fazer. Só resta saber se sobrará personalidade ás pessoas para executarem tais mudanças, sem serem suscetiveis á interesses alheios... se isso será possível, não sei. Mas eu, continuo lutando. Quero democratizar todo o meu conhecimento adquirido nas Ciências Sociais, quero ajudar o povo a pensar! Se não, de que vai valer meus conhecimentos acadêmicos? Para usar em discussões nas mesas do IFCH (que nunca levam a lugar nenhum...)? Tô fora. Botar o povo pra pensar é a solução para o Brasil. Cientistas Sociais brasileiros, uni-vos!