quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005
O pedacinho de mundo que temos em nós

Talvez o fato de nos indignarmos com as coisas bárbaras que acontecem por ai pelo mundo é termos, de fato, como diz o GRANDE Leonardo Boff, um pedaço de mundo dentro de nós. Um pedaço de mundo que também é de carne: pois cada momento que uma atrocidade ou uma fatalidade acomete um lugar é também uma ferida aberta no nosso corpo material. Eu ainda acredito que o homem só reclama daquilo que ele realmente sente. E estando as pessoas assim tão superficiais, eu só posso acreditar que a nosso pedaço de mundo é de carne. E só por isso a maioria das pessoas esboça reação. Hoje o nosso pedacinho, tão maltratado, pode contar com uma alegria. Um aperto de mão entre Ariel Sharon e Mahmoud Abbas aliviou um pouco a tensão sobre o nosso pequeno território. A essência do ser humano é realmente incrível: mesmo o mundo estando completamente perdido, é só ver uma coisa dessas que a gente fatalmente acredita q a paz e o entendimento entre essas duas topeiras será, de fato, possível. Talvez seja a minha percepção de brasileira, (que não desiste nunca) que esteja me influenciando. Mas triste mesmo é saber que essa é uma pequena porção de ilusão, que vai acabar por deixar a mídia cega por alguns dias, enquanto assassinatos bárbaros ocorrem na terra que deveria ser santa. Desse jeito fica difícil acreditarmos em qualquer coisa mesmo. Post Alegre É sempre uma odisséia as idas à linda Porto Alegre. Para ir foram 20 horas da mais cansativa viagem. Não chegava nunca. Num plágio do burro do Shrek, eu e Affonso ficávamos a todo instante "e agora, chegou?" "e agora?"´"tá chegando?", enquanto constatávamos que Santa Catarina inspirou o livro "Terras do Sem Fim". Ainda bem que não fez o calor infernal de 2003. Era só o que faltava. Nem bom humor, nem mau humor. Sem humor. Nem a paisagem paradisíaca do litoral de Santa Catarina melhorou a situação. Muito cansaço. O que animava eram as ligações de Mamã e Paulo, mensagens de Renato, Josie e Walter e a cara de descontentamento do Affonso (hhahahahaha). Parecia um judeu num trem indo para um campo de concentraçao de tão feliz. Ah sim. Isso porque, para o embarque, houve um atraso do ônibus de 9 (ISSO MESMO, NOVE) horas. Maldito DCE da UNicamp. Chegando lá, a doce alma que é Walter estava esperando. Nos encontrou, ajudou montar a barraca e ainda nos ofereceu um oásis no deserto: banho QUENTE TODOS OS DIAS! A felicidade enfim nos sorria! Os dias de Fórum renderam boas risadas, ensolação, uma camiseta 100% Lula, queimaduras de primeiro grau pelo corpo e uma unha a menos no pé. Meu encontro com o Paulo foi tão animado q ele me pegou no colo, mas antes me arrancou a unha. Amizade forte essa. A cidade continua linda, o povo encantador, a comida péssima e o acampamento assustador. Aproveitei, na verdade 3 dias de Fórum. Não vi meu amado Galeano, mas enfim, vi o querido Boff, Frei Betto e palestras do PT. Eu sou petista, mas acredito que, para quem não é, o Fórum deve ter sido irritante. Os petistas do governo participaram ativamente das atividades, fazendo propaganda dos programas implantados, ou seja; críticos e rebeldes sem causa de plantão, não gostaram. Outro dia conversando com o Walter, pelo ICQ, constatamos que o papel da neo-esquerda é realmente meio paradoxal. Confuso. Não sei se é impressão mas a esquerda está totalmente perdida. Seu pensamento e ideologia é bem mutável: não se apresentam propostas, o que se quer é tumultuar. Nunca me filiei ao PT. Sempre tentei militar a minha maneira. Quem cobrava de mim uma posição, ou como os filiados falam "ei, vamos tornar essa estrela de verdade" (?), hj integram a ala dos sem propósitos. Estão ali para badernar, tumultuar, não propoem nada. É triste, a medida que o Fórum deveria ser um espaço de propostas. Ainda podemos observar isso sim, essa receptividade de idéias e tal. Mas acho que logo, essa neo-esquerda louca e cega vai tolher os verdadeiros intuitos do Forum. Uma pena. E eu continuo petista, até o fim. Acho uma pena, sinceramente e, qdo disse no outro post que a cidade de Porto Alegre transpirava revolução, me referia à força da ideologia tão ausente nos outros lugares que acendia uma certa esperança de que a esquerda (a verdadeira esquerda, não essa neo-esquerda que não diz a que veio) existia. Enfim, o que quero dizer é que a última tentativa genuína da esquerda foi o PT, que tinha Porto Alegre como sua mais forte expressão. O que vem a partir de agora é bagunça. Noites mal dormidas, bagagem esquecida na estereira de Guarulhos, o destaque é todo do dia 27. Ver o dia raiar, tirar foto de ponta cabeça e boca aberta para a lua e literalmente perder o fôlego de rir: não tem dinheiro que pague. Pro resto existe Mastercard. Infelizmente isso tudo acaba, com a frieza de um próprio cartão de crédito. Infeliz daquele que não aproveita, não dá valor e não se lembra. Pior ainda aquele q se esforça para que seja assim. São os entorpecentes, novamente, dando um brilho fugaz á minha vida. Tudo bem. Só tenho 22 anos mesmo... Yo tengo tantos hermanos, que no los puedo contar... Finalizando, um pouco de poesia, da melhor. Escuto essa música desde pequena, com minha mãe traduzindo as partes mais importantes para mim. A parte que fala da irmã muy hermosa me fez querer por muito tempo ter uma filha chamada "Libertad", sem ainda ter noção que cada latino-americana já nasce com esse nome. O Fórum tem isso: fortalece o orgulho de pertencer a essa terra brava e linda. As cores, os idomas, o colorido dos rostos, as estrelas e as bandeiras ainda, não podem ter representante melhor que a linda Porto Alegre - apesar de tudo. Los hermanos Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar En el valle, la montaña, en la pampa y en el mar Cada cual con sus trabajos Con sus sueños cada cual Con la esperanza delante, con los recuerdos detras Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar Gente de mano caliente Por eso de la amistad Con un lloro pa' llorarlo Con un rezo pa' rezar Con un horizonte abierto Que siempre esta mas alla Y esa fuerza pa' buscarlo Con tezon y voluntad. Cuando parece mas cerca Es cuando se aleja mas Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar. Y asi seguimos andando Curtidos de soledad Nos perdemos por el mundo Nos volvemos a encontrar. Y asi nos reconocemos Por el lejano mirar Por las coplas que mordemos Semillas de inmensidad. Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar Y asi seguimos andando Curtidos de soledad Y en nosotros nuestros muertos Pa' que nadie quede atras. Yo tengo tantos hermanos Que no los puedo contar Y una hermana muy hermosa Que se llama libertad Arquivo Em breve fotos da aventura.