segunda-feira, 28 de agosto de 2006
Cinco saudades de Clarice Pois eu fiquei ontem, de manhã, depois de não conseguir voltar a dormir estando às voltas com o licenciamento do carro, tentando escrever tudo oq eu estava sentindo aqui nesse Pagu, meu velho confidente. E tão fiel. Tão, e tanto...
Escrever o tanto que eu tinha medo, o tanto que viver dói, o tanto que que... é grande? Não. É vasto, e como é.
Pois eu também pedia sempre pra acordar com uma vontade especial, e como eu pedi isso, heim. Vontade de acordar e querer escrever pra alguém. Sim, escrever, oq eu mais gosto de fazer. Isso me aconteceu uma vez apenas, há tanto tempo. Sem mais querer, eis que ontem eu acordei querendo, com a spalavras prontas na minha cabeça e com o endereço certo, e eu escrevi. Sim, eu escrevi! Está guardado.
Por hora, Clarice fala por mim, nesse momento inédito no Pagu, onde eu posto um texto completo de outro autor. Mas esse merece. Antes, um tira gosto temático:
Para te escrever eu antes me perfumo toda. Eu te conheço todo por te viver toda" - Ainda Clarice...
E Deus é uma criação monstruosa. Eu tenho medo de Deus porque ele é total demais para o meu tamanho. E também tenho uma espécie de pudor em relação a Ele: Há coisas minhas quem ele sabe. Medo? Conheço um ela que se apavora com borboletas como se estas fossem sobrenaturais. E a parte divina das borboletas é mesmo de dar terror. E conheço um ele que se arrepia todo de horror diante de flores - acha que as flores são assombradamente delicadas como um suspiro de ninguém no escuro.
Eu é que estou escutando o assobio no escuro. Eu que sou doente da condição humana. Eu me revolto: não quero mais ser gente. Quem? quem tem misericórdia de nós que sabemos sobre a vida e a morte quando um animal que eu profundamente invejo - é inconsciente de sua condição? Quem tem piedade de nós? Somos uns abandonados? uns entregues ao desespero? Não, tem que haver um consolo possível. Juro: tem que haver.
Eu não tenho é coragem de dizer a verdade que nós sabemos. Há palavras proibidas.
Mas eu denuncio. Denuncio nossa fraqueza, denuncio o horror alucinante de morrer - e respondo a toda essa infâmia com - exatamente isto que vai agora ficar escrito - e respondo a toda essa infâmia com a alegria. Puríssima e levíssima alegria. A minha única salvação é a alegria. Uma alegria atonal dentro do it essencial. Não faz sentido? Pois tem que fazer. Porque é cruel demais saber que a vida é única e que não temos como garantia senão a fé em trevas - porque é cruel demais, então respondo com a pureza de uma alegria indomável. recuso-me a ficar triste. Sejamos alegres. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar uma só vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor de nossa verdade. Eu estou - apesar de tudo oh apesar de tudo - estou sendo alegre neste instante-já que passa se eu não fixá-lo com palavras. Estou sendo alegre neste mesmo instante porque me recuso a ser vencida: entao eu amo. Como resposta. Amor impessoal, amor it, é alegria> mesmo o amor que não dá certo, mesmo o amor que termina. E a minha própria morte e a dos que amamos tem que ser alegre, não sei ainda como, mas tem que ser. Viver é isto: a alegria do it. E conformar-me não como vencida mas num allegro com brio.
Aliás não quero morrer. Recuso-me contra "Deus". Vamos não morrer como desafio?
Não vou morrer, ouviu, Deus? Não tenho coragem, ouviu? Não me mate, ouviu? Porque é uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde. Vou ficar muito alegre, ouviu? Como resposta, como insulto. Uma coisa eu garanto: nós não somos culpados. E preciso entender enquanto estou viva, ouviu? porque depois será tarde demais.
Ah este flash de instantes nunca termina. Meu canto do it nunca termina? Vou acabá-lo deliberadamente por um ato voluntário. Mas ele continua em improviso constante, criando sempre e sempre o presente que é futuro.
Este improviso é.
Quer ver como continua? Esta noite - é difícil te explicar - esta noite sonhei que estava sonhando. Será que depois da morte é assim? o sonho de um sonho de um sonho de um sonho?
Sou herege. Não, não é verdade. Ou sou? Mas algo existe.
Ah viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não pára, viver parece ter sono e não poder dormir - viver é incômodo. Não se pode andar nu nem de corpo nem de espírito.
Eu não te disse que viver é apertado? Pois fui dormir e sonhei que te escrevia um largo majestoso e era mais verdade ainda do que te escrevo: era sem medo. Esqueci-me do que no sonho escrevi, tudo voltou para o nada, voltou para a força do que Existe e que se chama às vezes Deus.
Tudo acaba mas o que te escrevo continua. O que é bom, muito bom. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas.
Hoje é sábado e é feito do mais puro ar, apenas ar.
Falo-te como exercício profundo, e pinto como exercício profundo de mim. O que quero agorar escrever? Quero alguma coisa tranquila e sem modas. Alguma coisa como a lembrança de um monumento alto que parece mais alto porque é lembrança. Mas quero de passagem ter realmente tocado no monumento. Vou parar porque é sábado.
Continua sábado.
Aquilo que ainda vai ser depois - é agora. Agora é o domínio de agora. E enquanto dura a improvisação eu nasço.
E eis que depois de uma tarde de "quem sou eu" e de acordar à uma hora da madrugada ainda em desespero - eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei. Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação.
Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar.
O que te escrevo é um "isto". Não vai parar : continua.
Olha pra mim e me ama. Não: tu olhas pra ti e te amas. É o que está certo.
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada.
Clarice Lispector - Água Viva
Estou sobre uma gelatina gigante
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terça-feira, 15 de agosto de 2006
Piegas [ ]
Meio piegas [ ]
Muito piegas [ ]
Não, não é piegas [ ]
Nossa, a música do final ficou piegas [ ] Acordei cedo ontem. Eu acabo reclamando muito, mas no fundo sabe que eu até gosto? A disposição é outra, e em dias bons eu não me importo da pior parte do dia em períodos depressivos: o despertar é algo tão aterrorizante que eu prefiro nem lembrar.
Pois ontem eu levantei, porém foi como um daqueles dias em que você sabe que vai buscar alguma coisa, e que essa coisa é definitiva. Ninguém explica oq eu senti qdo eu passei pela portaria da USP, assim como não dá pra explicar nada de maravilhoso que nos acontece. Até hoje, por exemplo, não me caiu a ficha de que eu entrei na UNicamp, me formei etc. Coisas maravilhosas não acontecem com a constância desejada, mas enfim: se fossem cotidianas, seriam maravilhosas? Acho que não.
Pois desci do ônibus em Campinas e eis que vejo Mie, que esperava o mesmo ônibus, mas para voltar aqui pra Mariafumaçolândia.
Subindo as escadas, eu pensei: é incrível a concomitância da corrida dos sonhos da gente. Enquanto eu estava indo pra São Paulo, me inscrever no mestrado da USP, Mie voltava da Polícia Federal, com os papéis de entrada do passaporte, pois enfim ela conseguiu a grana pra ir pros States. Entramos na Unicamp juntas, estudamos juntas na pior escola da cidade, só fomos aprofundar nossa amizade depois, mas isso ficou alguns minutos ali, vivo na minha cabeça. E eu achei bonito. E eu confiei ainda mais.
Cheguei em casa exausta. Mas tão, tão satisfeita. Porque tinha passado o dia com uma pessoa incrível, amiga sempre e sósia da Olga Benário, a tão já citada nesse blog, Letícia, tomado um chá mate que era um escândalo de gostoso (não é a toa que se chamava Paraíso), encontrado minha amiga mais descompassada na rodoviária antes de ir atrás do meu sonho (ela estava voltando com o dela)... Porque o sábado foi de Big Chico, papai, mamãe, Renato e eu na mesa da balada de blues (até entrei na comunidade: minha mãe e eu na balada)...
... e porque...
...
eu simplesmente fecho os olhos e sinto finalmente oq eu jamais acharia que ia sentir.
O amor acaba
Resposta da Cléo ao texto que eu encaminhei, com esse nome:
Não, Mari, o amor que é amor, não acaba... se renova...sempre!!! Acredite!!!
bjs
Que bom que alguém concorda comigo.
...
(dessa vez eu copiei mesmo, pq meu inglês não dá pra tanto haha! - aliás, não dá pra nada)
Let's Get It On - Marvin Gaye
I've been really tryin', baby
Tryin' to hold back this feelin' for so long
And if you feel like I feel, baby
Then come on, oh, come on
Whoo, let's get it on
Ah, babe, let's get it on
Let's love, baby
Let's get it on, sugar
Let's get it on
Whoo-ooh-ooh
We're all sensitive people
With so much to give
Understand me, sugar
Since we got to be
Let's live
I love you
There's nothin' wrong
With me lovin' you
Baby, no, no
And givin' yourself to me can never be wrong
If the love is true
Oh, babe, ooh, ooh
Don't you know
How sweet and wonderful life can be?
Whoo-ooh
I'm askin' you, baby
To get it on with me
Ooh, ooh, ooh
I ain't gonna worry, I ain't gonna push
Won't push you, baby
So come on, come on, come on, come on, come on, baby
Stop beatin' 'round the bush, hey
Let's get it on, ooh, ooh
Let's get it on
You know what I'm talkin' 'bout
Come on, baby, hey, hey
Let your love come out
If you believe in love
Let's get it on, ooh, ooh
Let's get it on, baby
This minute, oh yeah
Let's get it on
Please, please, get it on
Hey, hey
I know you know
What I've been dreamin' of
Don't you, baby?
My whole body is in love
Whoo
I ain't gonna worry, no, I ain't gonna push
I won't push you, baby, whoo
Come on, come on, come on, come on, come on, darlin'
Stop beatin' 'round the bush, hey
Gonna get it on
Beggin' you, baby, I want to get it on
You don't have to worry that it's wrong
If the spirit moves you, let me groove you good
Let your love come down
Oh, get it on, come on, baby
Do you know I mean it?
I've been sanctified
Hey, hey
Girl, you give me good feelings, so good
Nothin' wrong with love
If you want to love me
Just let yourself go
Oh, baby
Let's get it on
Às 17:10:03 MaritaPregou este panfleto
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terça-feira, 1 de agosto de 2006
Pagu: Mais de 10.000 Visitas!!! Obrigada aos leitores do rosinha! De Perto
Acordei hoje e estava tão, mas tão frio. Bem, eu levantei até que disposta, é bom acordar pra trabalhar, eu me sinto útil. Não adianta, olha os desmandos sociais sobre a minha cabecinha de apenas 23 anos. Eu sei que com 23 anos minha mãe já era casada fazia um ano - ai ai ai além de ser útil, a sociedade também ordena (acho que ordenava né) que fator de seriedade é o matrimônio. Pois é. Você só vale se você produz. Óóóó como estou feliz por ser ÚTIL. Pelo menos essa utilidade rende alguma felicidade, como meu tanque de gasolina cheio, um bom blues, infinitas batatas fritas e - por que não - uma tequila, pois eu mereço!
Eu entrei, nessa mesma época do ano passado, em uma comunidade no orkut chamada "O Nosso Amor a Gente Inventa. Olha só como nós, os úteis mortais nos comportamos com relação a nossa vida sentimental: nós também criamos histórias úteis aos momentos e acreditamos mesmo que aquilo é maravilhoso por estar cumprindo a tarefa momentanea do preenchimento interior - que nada mais que é um saco de ar que se coloca dentro de bolsas na loja, sabe? Pra ficar gordinho. Você fura, a-ca-bou. Se foi. Nem fez tanto barulho.
Ok ok. Eu já sei lidar com histórias criadas por mim mesma e com prazo de validade, pq no mundo capitalista tudo é útil por uma determinada quantidade de tempo. Por que criei histórias? Melhor né. Eu precisava esquecer que tem gente que nos abandona, e da mesma forma abandona todo amor e consideração dipensados, como se fosse um SANITO - é, se é pra ser largado, que eu seja um saco de MARCA (óóó as marcas nos dominam ideologicamente!!). Como é que as pessoas conseguem largar, se livrar assim de amor, anos de convivência, consideração. Como eu falei pra D. Iza hj a noite "mãe: eu não sei abandonar, é por isso que eu não entendo que eu seja abandonada". Claro. Várias vezes eu perdi a utilidade mas essa aí, que tem mais de um ano (nossa, como eu to estragada), foi com certeza, a pior.
Tudo bem. Já sei amarrar os sapatos, acho que já sei o uso do porquê por que porque e por quê, já sei responder pra quem ofender a minha mãe, já sei molhar o Óreo no leite e já sei que histórias criadas por mim mesma NÃO DÃO CERTO simplesmente PORQUE ELAS NÃO EXISTEM. Agora me digam, e quando parece que a HISTÓRIA ESTÁ REALMENTE ACONTECENDO?
Caros amigos, medo. MUITO MEDO. Eu não sei mais lidar com sentimentos verdadeiros. Na verdade eu já estou camuflando. Hoje eu me vi criando mecanismos de defesa. A primeira coisa que eu me vi falando hj de manhã antes de trabalhar, pra minha mãe, foi: "... mas eu não vou me animar, pq o ser humano é um dos únicos que tem a capacidade de abandonar. As pessoas abandonam". D. Iza olhou pra minha cara e disse: "Mas todos abandonam?". Aí, ainda bem, uma pontinha de esperança aqui dentro me impediu de responder que sim. Talvez pq eu tenha lembrado de um certo sorriso de canto, um certo furinho no queixo, não sei direito, mas eu tive vontade de novamente confiar. E foi aí que eu tive certeza daquilo que eu já desconfiava: que a história não era mais criada por mim, mas que estava acontecendo no plano real. Mas me digam: o que fazer agora, que está mesmo acontecendo?
Sou uma formiga e jogaram alcool no meu formigueiro.
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Mas é tão bom!
(frio na barriga. estou correndo riscos?)