domingo, 9 de dezembro de 2012

Saturnina


2012 está chegando ao final. Com ele, também se inicia o último ciclo do meu retorno a Saturno. Ontem folhei em uma livraria um livro que contava a trajetória dos mitos que morreram aos 27 anos. E numa conversa com uma colega hoje, cheguei a conclusão que este é mesmo um período conturbado, onde o início do retorno de Saturno se apresenta e atordoa a paz aparente.
                Me descaminhei e caminhei tanto nesses últimos três anos que eu não sei o que pensar de mim mesmo. Fui a Londres, morei em Portugal, habitei um bairro conservador no Rio de Janeiro, dirigi até o fim do estado, fui no fundo de mim mesma e fui obrigada a resgatar aquilo que eu nem sabia se ainda existia. Alguns momentos me vejo forte, madura, capaz e resignada a esperar o que ainda me espera. Em outros momentos eu me vejo perdida (por mais que resista àqueles que assim me julgam). “Você está perdida, Marie”. O engraçado é que eu sei perfeitamente onde estou indo.
                E por mais que eu tenha a agradecer que tantas desandanças não tenham tirado o que eu sempre tive de original de mim, às vezes é dolorido. Dói aguardar, como dói cicatrizar. Talvez meu estado irritadiço venha daí: Estou cicatrizando.
                Cicatrizando do momento cabal. Não sei lidar com o definitivo, e nos últimos anos eu perdi tantas coisas, apesar de não ter me perdido. O melhor amigo se foi por um motivo tão banal que eu só posso acreditar que ele foi mais um acidente de percurso. O amor ideal se desfez  ao se tornar real e agora eu me pego lembrando de tudo ao ver os pedais cor de laranja nos shows de bandinha que assisto por aí. Ao lembrar do cheiro que apenas uma cidade do mundo pode ter, ou da sensação mágica de se chegar ao Galeão. 
Ao retornar a Saturno, e espero que isso aconteça neste ano, quero continuar íntegra, resgatando tudo aquilo que eu perdi desde os meus 27 e podendo dizer: eu cicatrizei. Agora, quero ver quem é que pode comigo. Resisti a tanta coisa e posso dizer com certeza que, pessoas a partir dos 30 anos são por demais confiáveis. Por que elas enfrentaram a terrível jornada da reconstrução e desapego, e cicatrizadas, enfrentarão tudo o que vier. 

domingo, 2 de setembro de 2012


Qual é mesmo limite do real e da invenção daquilo que a nossa vaidade quer? Talvez a gente só saiba e só encontre com o amadurecimento. Mas é confuso demais quando a sua vida parece mais um filme que merecia o nome de “Encontros e Desencontros”. O pior é quando quem mais você procura encontrar é você mesmo. E além de você, que vive se escondendo, tem mais um alguém. Que surgiu do nada, se tornou presente, amigo, confidente, amante, irritante, inoperante, fantasma, passou a povoar sonhos, virou sua trilha musical, motivo de acumulação de milhas, motivo das mais diversas dores de cabeça, motivos das mais terríveis brigas, tema das mais acaloradas declarações de amor, das mais terríveis despedidas, das mais engraçadas piadas de escárnio. Personagem das mais lindas fotos de casal e dos beijos mais cinematográficos e das mais doloridas separações. Dos mais intensos planos e da mais forte ligação que se faz presente há dez anos. Ou seriam onze? O tempo se perdeu e a gente se perdeu entre os anos, os meses e a discórdia que ocorreu. E aí então vem a saudade. A vontade de ter de novo aquilo que foi um dia. Por vezes me peguei apertando os olhos, hora pra ter alguns momentos novamente, hora pra expulsar de mim certos pensamentos que não queria mais. A ausência é uma coisa estranhíssima: reinventa a sua voz, a sua grosseria tão minha, o desejo de montar uma casa, com jardim, porta-jornal e cachorro. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Olha, eu sei que já é tarde. Por aqui já são quase 10 e dentro de mim não há de anoitecer de jeito nenhum. É que há a lembrança, há o sorriso da primeira pergunta e ainda a falta de jeito da primeira resposta.
Sei também, lúcida de mim, que talvez não fosse o melhor momento. Infelizmente quem toca a campainha nunca sabe se estamos ou não vestidos dentro de casa, não é? Há a opção de se deixar chamar mas penso que escolhi abrir a porta.
Não se acanhe. Eu sou assim, exagerada, dramática, profundamente apaixonada. Mas como um bom fado, também muito verdadeira, e eu não sei se você entende isso. Quase ninguém compreende. Talvez seja mais cômodo não entender...
Eu nem sei se você tem, mas não precisa ter medo. Muitas vezes lamentei, mas não sou rasa, nunca fui. Talvez seja esse o meu calcanhar de Aquiles, o fato das pessoas poderem se deixar cair e ter a certeza de que eu vou segurar, porque eu seguro. A certeza às vezes não tem graça.
Eu não tenho vergonha de estar nesse lugar, não desconhecido mas que mesmo assim me coloca medo. Voltarei a ele quantas vezes forem precisas nesta vida e eu gostaria de nele, te encontrar de fato.