quinta-feira, 26 de maio de 2016

Quando eu era pequena, escrevi em uma atividade no livro didático: quero ser escritora. 
Tudo pra mim virava poesia. Eu lembro até hoje do dia em que escrevi um poema sobre o formato das nuvens, que encantou a professora da 5ª série. Fui criada e aprendi a dar a maior importância para as pessoas, para as plantas e pros bichos. Exercito isso diariamente e lá se vão 33 anos. 
Não fui criada em uma atmosfera de fadas e princesas. Minha avó execrava a Barbie. Não que eu fosse uma criança chata a la Mafalda, mas contos de fada não me cativavam pelo glamour, talvez pelo amparo que no fim das contas, a princesa tinha. Tive pais e irmã continentes. Até hoje. Amparada como uma princesa Disney.
Então eu me pergunto, antes de deletar definitivamente essa conta dessa rede social que eu não mais suporto, o que é que foi que deu errado?
Eu olho as fotos da faculdade e penso: nossa, eu queria ser essa garota! E eu não fui quando era.
Eu não aguento ficar acordada num mundo em que as pessoa descartam. Eu não aguento ficar acordada em uma realidade em que as pessoas não se importam umas com as outras. Fico dias sem ver minha melhor amiga que mora na rua de cima de casa. Não vejo meu melhor amigo há meses e apesar das redes sociais, não temos nos falado.
Mudam-se os interesses, as pessoas se dispersam, vai-se um pouco de mim e um pouco de você. Nos tornamos menos. E cada vez menos.
Eu sinto muito por não ter ventosinhas que segurem as pessoas ou as deixe querendo estar perto de mim. Houve um tempo que isso acontecia, aliás, ocorre. O gozo acaba, acabam-se também a ternura e a vontade de estar comigo. Pedaço de carne, mulher independente, solteira. Pedaço de carne maquiado bem vestido e cheiroso que serve por algumas horas. Depois, quem sabe?
Eu estou absolutamente cansada. Eu não suporto estar acordada e vivenciar tudo isso. Eu não consigo lidar com a indiferença de quem fez parte da minha vida. O que mudou, onde eu errei? Onde eu errei, eu quero saber, e eu eu erro muito.
Pedaço de carne, mulher, independente, solteira e cansada. Estou farta de redes sociais e das redes coercivas da vida. E me despeço, antes que digam que sou histérica. Antes fosse e não tivesse tanta, tanta consciência de tudo isso. Que bom seria! Que bom seria nada saber. Não querer escrever e saber descartar.
Me deixem, me deixem dormir. Me poupem da falta de interesse de quem estava a pouco tão próximo em saber como estou. Me deixem dormir. Adeus.

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