domingo, 7 de outubro de 2007

... é pra essa gente achar o que perdeu ...
Maria Valéria, O Retrato (Érico Veríssimo)

Como é difícil terminar o que se começa. Ou simplesmente dar continuidade... Pra mim, esse é o maior dos sacrifícios. E até conhecer o Rê, eu acho que eu era assim com relacionamentos. Eu comemorava um mês completo com aquela hipocrisia sagitariana de um conformismo que não me cabe. Nunca me coube.
Às vezes me pegava pensando também até que ponto eu poderia ser fiel. Sim, porque eu tenho uma liberdade dentro de mim que não entra em acordo com o único. Eu preciso me sentir solta pra poder viver. Porque estar atada a algo é como não realização. Ter que ir aos lugares e ter que estar com pessoas durante um determinado tempo era uma verdadeira marcha fúnebre. Disso acho que me sinto libertada. Afinal, amor (de verdade), é liberdade.

Outra coisa: penso que todo, mas todo esse processo desgraçado do ano de 2007 tem a ver com um processo de nascimento. Não digo renascimento pois acho mesmo que as pessoas demoram um bom tempo ainda pra se sentirem finalmente desamarradas e independentes. As idas à terapia constituem um processo doloroso, mas que me fazem nascer.

Terminei de ler O Tempo e o Vento. Mais de 2000 páginas. Quase 4 meses para a releitura. E uma crise de choro inexplicáveel ao terminar.
Não tinha lido O Arquipélago quando dei por conta que estava doendo e eu estava nascendo. E tamanho foi meu espanto em sentir o personagem de Floriano Cambará. O escritor Floriano Cambará. Não tinha lido O Arquipélago quando quis ser escritora'e tinha 8 anos. E de certa forma, sou. Socióloga é o nome que me dão, mas eu gosto tanto de escrevver que acho que sou mesmo é escritora. E Floriano descreve um nascimento parecido com o meu, agora. Vai ver, o choro desmedido e sem razão tenha sido o mesmo do nascimento. Ou repúdio natural à situação tão a mim estranha: terminar algo.
Pode ser também uma tomada de consciência do meu sentimento de liberdade... E de chorar coisas que senti e não exteriorizei. E que Floriano me jogou na cara nas linhas tão bem escritas pelo meu amado gaúcho que é Érico Veríssimo.
Penso que o que dói mais é a compreensão que a vida adulta confere. A maturidade leva à renúncias tão doloridas quanto necessárias. A renúncia da madura Sílvia no momento representou ao mesmo tempo todas aquelas que já fiz, que doeram, mas que cicatrizaram, pois não há outro jeito. O que dói também são as aceitações... E o medo do que ainda teremos que aceitar e compreender. E compreender que a salvação dela é a mesma que imagino pra mim, traduz que nada acontece por acaso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não li o tempo e o vento. E só pelo que vc escreveu já me dispus a fazê-lo em algum futuro próximo.

Mas só queria dizer que é bom nascer. E melhor ainda é nascer de novo. Permitir que seu próprio corpo e sua própria alma sejam renovadas como nossa própria necessidade, nossa existência, nosso amor.

Boa renovação pra ti. Escritora. socióloga, mas escritora =D

Spartacus disse...

Maturidade... renunciar...essas estão ecoando na minha vida a cada dia deste 2007.

Terminar o que começamos tb não é fácil. Eu me sinto irresistivelmente tentado a largar tudo pela metade. Mas um dia eu aprendo ;-)

Nossa maior capacidade é a de reiventar a nós mesmos. Renascer a cada dia...

Um bjo no coração!

Thiago

Sue Ellen disse...

Um projeto de iniciação que está parado..
O quarto meio bagunçado,
Um livro pela metade..
Um texto mal escrito..
Discursos inteiros resumidos a um "pois é".
Meu Deus, como eu sei como é horrível deixar as coisas pela metade. Como pesa na consciencia. Já falamos muito sobre isso, né?
E o misto desse peso, ao medo de terminar somado ao alívio da coisa pronta cria uma confusão mental e a gente nem sabe de verdade o que sente.
Nascer.. deixar a situação aparentemente cômoda, de viver na inércia, e encarar a "saída do útero" e doloroso. Mas necessário.
E vc vai conseguir. Eu sei que vai. Já conseguiu tanta coisa nessa vida (sobreviveu até ás licencituras..rss). E eu to aki..
sempre!!!! Como diria o Magal, "Me chama que eu vou!" ;-) Bjooo