domingo, 17 de abril de 2016

Cada vez mais tenho a convicção de que minha necessidade diária por Espran 10mg se dá pela negação de mim mesma. 
Não que eu me sinta oprimida, pelo contrário: desde a mais tanta idade escutei em casa que seria apoiada em qualquer uma de minhas decisões, desde que eu não me prejudicasse voluntariamente e fosse feliz. 
E eu me considero uma pessoa feliz, sim. Fiz Ciências Sociais mesmo nãos sendo rica para bancar uma faculdade paralela e estou absolutamente satisfeita com a minha profissão, apesar das dores diárias e cansaço latente: a Sociologia é um esporte de combate. E eu sou guerreira. 
Hoje vi uma imagem das manifestações contra o impeachment no Rio de Janeiro e os dizeres: quando o morro descer e não for carnaval. 
E então, pensei que o que eu queria mesmo, era estar no morro, ajudar alfabetizar crianças no sertão, contemplar diariamente a diversidade social na Lapa e cair de dançar no final da noite. Talvez o que me falte seja mesmo sair do interior e atuar em um contexto mais amplo, amplo de mim mesmo. 
Em Lisboa, quando estava sozinha ou melancólica, eu descia do meu apartamento, que era central e ficava bem perto da zona do meretrício, muito próximo então da Avenida da Liberdade (localização das lojas de grife) e andava até a Alfama  (onde nasceu o fado!) ou Mouraria, que tem um histórico de ser um reduto popular. 
Eu sempre achei tão lindo esse nome: Mouraria. Remete justamente aos paria, de ontem e como sabemos, de hoje. E ali eu gostava de sentar no bar menos provável e ouvir as pessoas de mais de 60 anos contarem sobre seu cotidiano umas paras as outras. Talvez eu sinta essa falta de Lisboa por ter sido a experiência mais próxima de mim mesma que tive na vida. 

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