terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


Sempre que me lembro que sou socióloga, me lembro também de um filme que contava a história da Leila Diniz, onde Marieta Severo fazia sua mãe. Os pais de Leila eram comunistas.
Meu pai sempre foi de esquerda. Minha mãe, também, porém sempre mais ponderada. E antes de descobrir que todo fundamentalismo era burro, fui da esquerda mais vermelha durate toda a minha adolescência. Acordei na faculdade, onde nada daquilo fazia sentido. Os ideais não eram verdadeiros e os militantes também me pareciam artificiais. Uma verdadeira trupe encenando um papel que só cabe nos arredores da Universidade.
Com uns 11 anos, era louca por mapas. Dizia que iria ser geógrafa. Era a época do desmembramento da Europa Oriental, das guerras na África. O mundo não era o mesmo e eu me encantava com os mapas que chegavam junto da Folha de São Paulo, onde eu percorria quilômetros (encantados quilômetros don quixoteanos!), vivendo no império Maia, participando da Primavera de Praga e da Revolução dos livros, me horrorizando com o nazismo e participando da Revolução de Outubro.
Quando descobri que uma ciência juntava tudo o que eu mais gostava - as Ciências Sociais - me tornei socióloga ainda sem ser. E hoje sou. E como gosto. E como ainda me encanto com a geopolítica.
A primeira aula da faculdade (David Bowie e orientais numa luta sem igual), estava eu com a camiseta, pintada por mim mesma. O desenho era a sombra de Che Guevara.
Acordei, abri o computador e vi que Fidel havia renunciado. 19 de fevereiro de 2008. Em casa, os problemas de sempre. Mas os valores de sempre. Minha mão chorou, estou aqui parada na frente do PC e meu pai, como sempre, sabia cada detalhe: tinha escutado logo de manhã a notícia.
É como se tudo estivesse acabando aos pouquinhos, como se não mais existisse diferencial algum, nessa globalização desenfreada que massifica gostos e idéias.
Meus alunos com certeza, quando se pergunta quem é Fidel, devem responder: é aquele velho esquisito que usa uns botinões.
Eu não sei oq o Comandante significa. Acho que é esperança.
É por isso que abala tanto.

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu sempre faço comentários apaixonados quando é esse o tema. Eu digo 'apaixonado' mas quem o lê, certamente, acha radical. Sim, mas, não importa. O fato é: qm critica Fidel e o regime, é burro. Sim, é burro. Talvez hoje ele não seja mais o modelo que deveria...mas só pelo fato de ele ter dado de ombros ao poderio/dominação americano sobre a sua tão amada ilha, ele é já é digno de elogios e reverências.
E, hj, comentando isso com um amigo, ele disse"ah, só qm sabe do Fidel são os cubanos." Ah, sim...com exatidão. Mas, não critiquem o regime, dizendo que ele 'massacra' qm critica. Vamos lembrar da educação cubana, do sistema de saúde, etc. Vivemos, nós, os brasileiros numa democracia. Que brilhante democracia, onde a maioria de nós passa fome. Sou mais a ditadura cubana, com dignidade aos cubanos, do que a democracia com fome.

Viva El Comandante! E a Revolução, sempre!


bjs, Mari. Adorei o texto.


Bel.

Michele disse...

não creiooooo, agora eu q tô aqui boquiaberta...não creio q o Fidel renunciou...e quem ficou no lugar? o q aconteceu? aqui nos US ng fala de Cuba né...nadinha...afff...odeio esse país viu...acho q se o mundo todo ficar igual a isso aqui, daí sim vc saberá o q significa a falta de valores...

Anônimo disse...

"Cuba é um país pobre e fudido" é o que me dizem, geralmente, para atacar o Fidel.
O que não entendem é que Cuba já era um país pobre, o advento de Fidel tornou Cuba um país mais rico comparativamente, apesar de continuar sendo um país pobre.

O argumento de que os países socialistas são pobres em comparação com os capitalistas, são válidos porque o socialismo não ambiciona tornar a todos ricos, mas diminuir a desigualdade e a pobreza (as pessoas as vezes esquecem isso). E também porque a base de comparação delas são os países da Europa Ocidental (EUA não conta pq a riqueza deles é mto mal distribuída), que representam sei lá 10% do mundo capitalista, esquecem de toda a África, America Latina, Europa Oriental, Ásia, etc.

Anônimo disse...

fui eu que comentei essa merda aí em baixo.
Ass: Renato, amiguinho de longa data da Mari.

Anônimo disse...

Sempre quando se defende Fidel falam "Ah, vai para Cuba então". O que tenho vontade de responder é para me arranjarem a passagem e uma vaga na faculdade de Cuba que embarco semana que vem.

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom